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quarta-feira, 21 de março de 2012

TEXTO BEM EXTENSO MAS MUITO BOM...!

SE VOCÊ FOR UM EDUCADOR, LEIA COM ATENÇÃO
A Indisciplina na sala de aula
Cristina de Almeida e Silva Machado

Primeiro dia de aula. Professor novo. Turma pouco afeita ao
estudo. No caminho para seus novos afazeres os corredores da escola não parecem nada animadores para o recém-chegado professor. Na sala de aula todos os alunos estão de de pé circulando despreocupadamente sem qualquer tipo de compromisso
com o trabalho que está apenas começando.
Querem falar de outros assuntos, mais próprios e interessantes
em sua opinião para pessoas que, como eles, estão em idade para freqüentar o
Ensino Médio. Matemática não lhes parece parte integrante dos conhecimentos que
necessitam para sobreviver na selva que percebem em seus cotidianos. Jaime, seu
novo professor, mal consegue se apresentar, pois é interrompido com menos de 10
minutos em sala de aula pelo acionamento do sinal que faz com que todos os
alunos saiam rapidamente da classe.
É apenas mais uma entre várias “brincadeiras” promovidas pelos
alunos para interromper o trabalho que está sendo desenvolvido. Numa outra
aula, quando as primeiras páginas do livro estavam sendo abertas no capítulo
sobre frações e porcentagens, surgem dois novos alunos, atrasados, que trazem
consigo justificativas que lhes permitem permanecer na aula.
Nenhum dos dois tem os materiais apropriados e ainda
desrespeitam o professor com gestos obscenos. Ao ser interpelado pelo professor
no final da aula um dos estudantes diz que não tem qualquer interesse pelo que
está sendo ensinado e, além disso, ameaça o professor.
Para desestabilizar ainda mais as aulas de matemática, os jovens
amotinados passam a assistir a aula tendo a seu lado outras pessoas que, como
eles, não estão dispostos a estudar e que, da mesma forma como os primeiros,
querem ameaçar e boicotar os esforços de Jaime. Para piorar ainda mais a
situação, entre os outros membros do corpo docente a descrença na capacidade
dos estudantes também se faz notar.
Nas reuniões pedagógicas ou mesmo nos intervalos (na sala dos
professores), fica claro para o novo professor de matemática que entre seus
colegas de trabalho não há nenhuma perspectiva positiva quanto ao futuro de
seus novos alunos. Nem mesmo entre os pais a educação é vista como uma
possibilidade de crescimento, de amadurecimento e de melhores chances no
futuro...
A seqüência de acontecimentos acima descrita poderia retratar
fatos ocorridos em qualquer escola do Brasil. Apresenta o que para muitos que
trabalham com educação seriam situações corriqueiras, do cotidiano de seu
trabalho.
Trata-se, entretanto de um recorte feito a partir do filme “O
Preço do Desafio” (Stand and Deliver), do diretor Ramon Menendez, produzido
pela Warner Bros em 1988 a partir da história real de Jaime Escalante, um
professor de matemática.
Quando nos referimos a Instituição Escolar, não podemos deixar
de enfocar essa questão que suscita muitas dúvidas a educadores, diretores,
pais e até mesmo a alunos: a indisciplina.
- O que é uma classe indisciplinada?
- O que o professor pode fazer para ter controle perante
situações de indisciplina?
No ambiente escolar em que trabalho, as principais queixas dos
professores relativamente à indisciplina são: falta de limite dos alunos,
bagunça, tumulto, mau comportamento, desinteresse e desrespeito às figuras de
autoridade da escola e também ao patrimônio; alguns professores apontam que os
alunos não aprendem porque são indisciplinados em decorrência da não imposição
de limites por seus familiares; o fracasso escolar seria então o resultado de
problemas que estão fora da escola e que se manifestam dentro dela pela
indisciplina; de acordo com esses professores, nada pode ser feito enquanto a
sociedade não se modificar. Condutas como essas são também observadas em outras
instituições particulares e em escolas públicas. Podemos afirmar que no mundo
atual a maioria das escolas enfrenta estas questões, que perduram há anos,
sofrendo obviamente alterações históricas de acordo com as contingências
sócio-culturais.
Atualmente a indisciplina tornou-se um “obstáculo” ao trabalho pedagógico e os
professores ficam desgastados, tentam várias alternativas, e já não sabendo o
que fazer, chegam mesmo em algumas oportunidades a pedir ao aluno
indisciplinado que se retire da sala já que ele atrapalha o rendimento do
restante do grupo. Nesses casos, os alunos são encaminhados ao Serviço de
Orientação Educacional. Muitas vezes há pressões por parte dos professores para
que sejam aplicadas punições severas a esses estudantes.
- Como agir nessa situação? De que forma ajudar?
O que é uma Classe Indisciplinada?
Para iniciarmos uma reflexão sobre essas questões, vamos
destacar o que significa a palavra indisciplina a partir de algumas definições
quanto ao termo.
Indisciplina –
procedimento, ato ou dito contrário à disciplina; desobediência, desordem,
rebelião. (Dicionário Aurélio).
De acordo com o sociólogo francês François Dubet (1997), “a
disciplina é conquistada todos os dias, é preciso sempre lembrar as regras do
jogo, cada vez é preciso reinteressá-los, cada vez é preciso ameaçar, cada vez
é preciso recompensar”. Isso nos coloca diante de um antônimo de indisciplina,
nos lembrando que o respeito às regras dentro de uma instituição é de
fundamental importância para o seu funcionamento pleno e que, conseqüentemente,
a indisciplina representa a ameaça pela desobediência às regras estabelecidas.
Por isso Dubet ressalta a necessidade dos professores relembrarem as regras e
estimularem o seu cumprimento no decorrer do ano letivo.
Segundo o professor Júlio Groppa Aquino: ”O conceito de
indisciplina, como toda criação cultural, não é estático, uniforme, nem
tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e expectativas
que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa mesma
sociedade.”
Groppa ressalta que a manutenção da disciplina era uma
preocupação de muitas épocas como vemos em textos de Platão e nas confissões de
Santo Agostinho, de como a sua vida de professor era amargurada pela
indisciplina dos jovens que perturbavam “a ordem instituída para seu próprio
bem”.
Diante dessa idéia de Júlio Groppa, não podemos deixar de
lembrar da forma como as escolas até os anos 1960, conseguiam fazer com que
seus alunos se comportassem. A disciplina era imposta de forma autoritária, com
ameaças e castigos.
Os educandos temiam as punições e esse medo levava a obediência
e a subordinação. Além de submetidos a uma rigorosa fiscalização, não podiam se
posicionar utilizando-se de questionamentos e reflexões. Os professores eram
considerados modelos e, em virtude do conhecimento que possuíam, agiam como
donos do saber.
“A educação se torna um ato de depositar, em que os educandos
são os depositários e o educador o depositante” (Freire, 1998) por isso passa a
ser chamada de “educação bancária”. Segundo a educadora Rosana Ap. Argento
Ribeiro, “a educação bancária é classificada também como domesticadora, porque
leva o aluno a memorização dos conteúdos transmitidos, impedindo o
desenvolvimento da criatividade e sua participação ativa no processo educativo,
tornando-o submisso perante as ações opressoras de uma sociedade excludente. O
papel da disciplina na educação bancária é fundamental para o sucesso da
aprendizagem do aluno. Nela, a obediência e o silêncio dos alunos são aspectos
importantes para garantir que os conteúdos sejam transmitidos pelos
professores”.
Atualmente, nos primeiros anos do século XXI, estamos vivendo
num outro contexto. Influenciados por mudanças políticas, sociais, econômicas e
culturais, professores e alunos, e mesmo a própria instituição escolar, assumem
um papel diferente na sociedade. Nessa nova realidade a educação bancária já
não deveria ser aplicada dentro das escolas.
Acredita-se hoje que os professores devem estar mais preocupados
com seu aperfeiçoamento, permitindo que seus alunos questionem, tirem suas
dúvidas, se posicionem. Enquanto os alunos, por sua vez, têm mais acesso à
informação, se consideram livres para questionar, criar e participar. Outro
aspecto importante quanto à educação no 3° milênio refere-se ao fato de que a
instituição escolar deveria estar mais aberta para a participação dos pais e da
comunidade em suas atividades e mesmo, nas propostas curriculares.
François Dubet reforça a idéia de que “os professores mais
eficientes são, em geral, aqueles que acreditam que os alunos podem progredir,
aqueles que têm confiança nos alunos. Os mais eficientes são também os
professores que vêem os alunos como eles são e não como eles deveriam ser”.
Quanto às afirmações anteriores percebo em minha realidade que
alguns professores se mostram preocupados quanto a sua formação e prática
profissional enquanto uma quantidade expressiva ainda demonstra grande
resistência à reflexão e ao aperfeiçoamento do seu trabalho por se considerarem
experientes e prontos para o exercício do magistério.
No que se refere aos estudantes é possível verificar que há um
grande incentivo da família quanto aos estudos e ao mesmo tempo há um maior acesso
a recursos que facilitam e promovem o processo de ensino-aprendizagem, como
livros, computadores, internet, revistas, jornais, filmes... Essa circunstância
realmente os torna mais críticos, questionadores e participativos. Porém, nem
todos conseguem utilizar essas ferramentas de forma consciente e produtiva.
Os pais, por sua vez, comparecem a escola para presenciar a
apresentação de trabalhos realizados por seus filhos apenas como observadores,
sem posicionamentos mais efetivos e críticos. Há, porém baixo índice de
comparecimento nas reuniões solicitadas pela escola, especialmente entre os
pais cujos filhos freqüentam turmas da sexta série do ensino fundamental ao
ensino médio.
O que o professor pode fazer para ter
controle perante situações de indisciplina?
Sabemos que para obter disciplina em qualquer ambiente em que
vivemos não podemos deixar de falar de respeito. Segundo Tardeli (2003), o tema
respeito está centralizado na moralidade. Isso quer dizer que cada pessoa tem,
junto com sua vida intelectual, afetiva, religiosa ou fantasiosa, uma vida
moral. E o primeiro a atribuir um significado a moralização e inserir no
conceito de ética foi o filósofo Demócrito.
Sabemos que atualmente o papel do professor dentro da escola é
muito mais abrangente, pois ele precisa estar atento às capacidades cognitivas,
físicas, afetivas, éticas e para preparação do educando para o exercício de uma
cidadania ativa e pensante.
Será que sabemos ouvir nossos alunos? O diálogo envolve o
respeito em saber ouvir e entender nossos alunos, mostrando a eles nossa
preocupação com suas opiniões e com suas atitudes e o nosso interesse em poder
dar a assistência necessária ao aperfeiçoamento do seu processo de
aprendizagem.
É também compromisso do educador se preocupar com a disciplina e
a responsabilidade de seus alunos. Para Piaget (1996), “o respeito constitui o
sentimento fundamental que possibilita a aquisição das noções morais”
.Conseguimos atingir a responsabilidade, desenvolvendo a cooperação, a
solidariedade, o comprometimento com o grupo, criando contratos e regras claras
e que precisarão ser cumpridas com justiça.
O professor passa a se preocupar com a motivação de seus alunos,
tendo maior compromisso com seu projeto pedagógico e as questões afetivas,
obtendo dessa forma uma relação verdadeira com seus educandos. Sob uma visão
Piagetiana, o professor que na sala de aula dialoga com seu aluno, busca
decisões conjuntas por meio da cooperação, para que haja um aprendizado através
de contratos, que honra com sua palavra e promove relações de reciprocidade,
sendo respeitoso com seus alunos, obtendo dessa forma um melhor aproveitamento
escolar.
Segundo Tardeli (2003), “Só se estabelece um encontro
significativo quando o mestre incorpora o real sentido de sua função, que é
orientar e ensinar o caminho para o conhecimento, amparado pela relação de
cooperação e respeito mútuos”.
Como agir nessa situação? De que forma
ajudar?
Não podemos deixar de ter como foco em nosso trabalho o SER
HUMANO. Precisamos valorizar as pessoas. Uma frase de Walt Disney ilustra bem
essa idéia: “Você pode sonhar, criar, desenhar e construir o lugar mais
maravilhoso do mundo... Mas é necessário TER PESSOAS para transformar seu sonho
em realidade”. Estamos envolvidos com pessoas em nosso dia a dia: alunos, professores,
pais, coordenadores, orientadores e diretores e, por isso, precisamos aprender
a trabalhar em equipe para obter uma instituição forte, competente e coesa. A
qualidade é obtida através do esforço de todos os seus integrantes, onde cada
profissional é importante e cada aluno também. A escola é uma organização
humana em que as pessoas somam esforços para um propósito educativo comum.

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